A delegada de Polícia Letícia de Oliveira Paiva, recém aprovada no concurso público da PCRR (Polícia Civil de Roraima), conta sua história de vida e como superou vários obstáculos para realizar seu sonho. De moradora de abrigo em Altamira, no Pará, ao novo cargo conquistado por muito trabalho e dedicação, a nova delegada relata a trajetória pessoal que passou por uma infância sofrida.
“Eu nunca imaginei que pudesse hoje estar no lugar que estou”, revelou a recém-empossada delegada de Polícia Civil, Letícia de Oliveira Paiva, de 39 anos.
Letícia, que ficou entre os 196 policiais empossados pelo governador Antonio Denarium no último dia 19 de julho, disse se lembrar de tantas vezes que dormiu com fome.
“Nasci em Portel, na Ilha de Marajó. Ainda criança fomos para Altamira, onde morávamos em uma casa cedida. Quando eu tinha 3 anos de idade, houve uma inundação e fomos amparados em um abrigo do Exército, onde ficamos morando por muito tempo”, disse.
Nesse tempo, Letícia disse que a situação de sua família era de muita pobreza.
“Minha família não tinha nem o que comer na cidade. Eu ia à escola porque lá era servido lanche e muitas vezes era a minha única refeição do dia. Eu e meus irmãos só vestíamos roupas doadas por populares. Gostaria muito que minha mãe e minha avó estivessem vivas para verem que eu venci todas as dificuldades e cheguei até aqui”, disse.
Emocionada, a delegada lembrou das dificuldades vividas pela família de baixa renda, o percurso percorrido durante os estudos e destacou o sentimento vivido nestes primeiros dias de atuação.
“Para mim, essa era uma realidade muito longe. Hoje as pessoas não acreditam que eu cheguei nesse cargo, mas Deus cumpriu algo que Ele me prometeu quando ainda criança, e hoje eu estou aqui”, afirmou Letícia.
Ainda em Altamira, a família de Letícia foi ajudada por um padre que lhes cedeu um terreno e, tempos depois, foram morar na roça até chegar o tempo em que precisou estudar na cidade, onde tiveram que vender lanche e dindim na rua para sobreviver.
Aos 10 anos, a pequena Letícia precisou trabalhar como babá. Aos 13 anos de idade, foi com a família em busca de melhorias para o estado do Amapá, onde trabalhou como empregada doméstica.
“[Isso foi] para que eu pudesse me manter na escola. E é aí que começa a minha história de vida, porque foi ali que comecei a sentir o desejo de querer ser alguém, de querer crescer, e foi aí que me despertou para os estudos. Fiz parte de um projeto social do estado, e ali comecei a ir para as aulas de cursinho gratuito. Passei no meu primeiro vestibular para o curso de Letras na Universidade Estadual do Amapá”, recordou.
A partir daí, Letícia não parou mais. Passou no primeiro concurso público como agente de saúde, ainda no Amapá. Posteriormente, foi aprovada no concurso público para o cargo de soldado da Polícia Militar, naquele estado.
“Ali descobri que me identificava com a área do Direito, voltei para o cursinho e passei no vestibular da Universidade Federal do Amapá. Lá, descobri que eu me identificava com a segurança pública e queria ser delegada”, recordou.
No ano de 2017, Letícia passou no concurso da Polícia Civil do Pará para o cargo de escrivã e, em 2022, prestou concurso público na Polícia Civil de Roraima.
Para Leticia, ser delegada é “um sonho, uma promessa”.
“Foi um sonho que nasceu na Universidade e quando criança, tive uma promessa que alguém chegou comigo e disse que Deus iria me constituir uma autoridade policial. E, para mim, essa realidade era muito longe. Fui babá, vendedora de pastel na rua, agente de saúde e hoje, estou no cargo de delegada de Polícia. É algo inacreditável na minha vida. Mas não foi apenas eu que estudei, mas Deus que me colocou onde eu estou”.
De acordo com Letícia, a expectativa é de que a superação das dificuldades e a conquista almejada sejam motivadores para aqueles que hoje também lutam por uma vida melhor.
“Eu acordo todos os dias e digo: Senhor, para mim é impossível, mas não é para ti. Lembro que Efésios 3:20 diz que ‘Deus faz infinitamente mais do que pedimos e pensamos’. Então essa é minha história de vida. Espero que eu possa passar algo para as pessoas, sobre a minha história de vida, da minha superação. E que elas não esqueçam que a gente tem que acreditar nos nossos sonhos. Acreditar e correr atrás e, acima de tudo, ser muito grato a Deus”, concluiu.
REPORTAGEM: Jornal Folha de Boa Vista.